quarta-feira, 27 de março de 2024

A antiga "teologia da cruz" contra os "novos fariseus"...

Após um período sem tempo para escrever (e, sobretudo, sem muita inspiração), estamos de volta por aqui.

Como de costume, cada texto novo neste blog é, quase sempre, a vívida expressão de determinados "memes" sobre o chamado "temperamento colérico"nos quais os "protagonistas" dizem que terminarão o que começaram "nem que seja na força do ódio" ou, para fazer um contrapeso mais poético, usualmente remete ao famoso refrão dos Engenheiros do Hawaii, que diz: "se depender de mim, eu vou até o fim". Desse modo, meu desafio é escrever tudo o que seja necessário, no tempo determinado e, caso seja possível, com cada vez menos ódio ao longo dos parágrafos que virão. Que Deus me ajude!


Este texto será estruturado pela interconexão dos conceitos, significados e usos das expressões a seguir: 1) fariseus, 2) teologia da cruz e 3) o "compêndio Quaresma-Páscoa". Tendo em vista que, de um lado, alguns dos vocábulos citados podem causar sentimentos impetuosos a priori (os quais, muitas vezes, são um produto de compreensões imprecisas ou equivocadas, porém já consolidadas no senso comum) e que, por outro lado, ainda há muito desconhecimento sobre outros dos termos mencionados, é bastante oportuno desmistificar certas idéias distorcidas a eles referentes bem como lançar luz sobre o que ainda for mais obscuro ou desconhecido. Portanto, feitas essas observações, o texto será mais facilmente assimilado e entendido. Sigamos, pois, em frente e sem demora!


Fariseus

Fariseus? O que são? Quem são? Onde vivem? Do que se alimentam?

Pondo à parte as perguntas irônicas acima, o termo "fariseu" se refere ao segmento religioso judaico conhecido por seu rigor na observância da Lei de Moisés e de demais tradições complementares, cujas origens remontam ao chamado "período interbíblico" (i.e., após o retorno dos judeus à Terra Prometida durante o domínio medo-persa e com a conclusão do ministério profético característico do Antigo Testamento). Os fariseus eram tidos em grande estima pelos que os cercavam devido à sua devoção e zelo e, nos dias do ministério de Jesus, estiveram presentes nos principais momentos - seja nos milagres, seja ouvindo os ensinos e sermões de Cristo e, sobretudo, por ocasião de Sua crucificação. Finalmente, os fariseus ainda exerceram grande influência entre os judeus durante as primeiras décadas da igreja cristã nascente, a qual durou até 70 d.C - o ano da destruição de Jerusalém e do início da diáspora judaica pelo Império Romano.


Teologia da Cruz.

A expressão "teologia da cruz" ('theologia crucis', em latim) foi central no pensamento do reformador Martinho Lutero, a qual era diametralmente oposta à chamada "teologia da glória" ('theologia gloriae'), associada à igreja romana medieval. Para Lutero, o centro de todo o cristianismo era o correto entendimento de "Cristo, e este crucificado" (citando as palavras de Paulo aos cristãos coríntios), de forma que "no Cristo crucificado estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus", visto que é por meio da "mensagem da Cruz" que compreendemos, simultaneamente, a gravidade do nosso pecado, a severidade da justiça de Deus contra ele e, acima de tudo, a grandeza do Seu amor manifesto na morte de Jesus em favor dos pecadores. Nesse caso, a "teologia da cruz" era a resposta protestante à "teologia da glória" (marca da ostentação exterior, da falsa piedade e da corrupção presentes no catolicismo romano da época), tendo como alvo destruir toda noção de "salvação por obras e em cooperação com Deus" para, em contrapartida, afirmar que só Deus opera a salvação humana, assim como revelam as Sagradas Escrituras.


Quaresma e Páscoa.

Essas duas estações do "calendário litúrgico" são, possivelmente, as mais significativas para a cristandade (de modo mais amplo), pois tratam especialmente do aspecto mais sacrificial e abnegado da vida de Jesus (destacando a Sua morte de cruz, no período da "Semana Santa"), bem como seu aspecto triunfante (como se vê em Sua ressurreição, a qual marca o início da temporada de Páscoa). Assim, sabendo-se que a morte e a ressurreição de Cristo são episódios estritamente conectados entre si e que possuem suprema importância para a confessionalidade cristã, não haveria como discutir apropriadamente o que projetei para esse texto sem levar esses elementos em conta, pois, se o Evangelho não permear essas "mal traçadas linhas", tudo o que se verá nelas será raiva, indignação, sarcasmo e desdém - os quais até possuem seu valor, mas não a qualquer custo. Desse modo, guardemos o que já foi dito e "entremos no ringue" preparados - caso contrário, vocês poderão sair nocauteados desse blog em menos de 36 segundos!



Feitos esses esclarecimentos, uma pergunta surge: quem seriam os "novos fariseus" aos quais me referi? A resposta a essa pergunta requer, inicialmente, que entendamos como o termo "fariseu" é atualmente compreendido por grande parte das pessoas - em particular, por aqueles que se declaram cristãos. Desse modo, o "fariseu" é/seria aquele religioso mais legalista e rigoroso com a moral e a boa conduta mas que, ao mesmo tempo, pratica(ria) diversos pecados que o torna(ria)m um "hipócrita", o desqualificando como um exemplo a ser seguido e, com isso, levando a religião por ele professada ao descrédito. Nesse sentido, é cada vez mais comum ouvirmos a palavra "fariseu" sendo utilizada de modo impreciso e irresponsável (até mesmo como um tipo de "xingamento") por aqueles que são críticos do cristianismo ou contrários a ele (cujo objetivo é macular ou afrontar a Deus e à igreja cristã como um todo) ou por certos religiosos que desejam se desvencilhar da imagem negativa associada ao "farisaísmo" (i.e., o "modo de vida de um fariseu"). Ou seja, de acordo com essa perspectiva, "fariseu" é um termo que possui(ria) somente más conotações, a tal ponto de que todos que o utilizam de forma equivocada/maliciosa apenas destilam sua hostilidade à fé cristã ou alardeiam sua própria versão da "oração do fariseu" apresentada por Jesus em Lucas 18, a qual diz: "graças Te dou, ó Deus, porque eu não sou como estes fariseus"!

Conseqüentemente, os "novos fariseus" mencionados neste texto formariam o segmento religioso dentro do meio cristão que, embora tenha a pretensão de representar o "verdadeiro cristianismo" (segundo os critérios deles), simultaneamente é/seria marcado pela mesma hipocrisia e impiedade que atribuem àqueles que são alvos de sua oposição e suas críticas. Assim, esses "novos fariseus" são, normalmente, os primeiros a trazer para o ambiente eclesial diversas pautas (sobretudo de natureza política, para fins de "reparação" e "equidade") a fim de convencer a igreja de sua "responsabilidade social", cujo discurso de "amor à humanidade", "tolerância" e "cuidado com a Criação" mascara, muitas vezes, a falta da compaixão individual para com o próximo e o respeito aos pais, bem como a intolerância para com todos os que são considerados uma "ameaça à causa" pela qual lutam e, finalmente, a substituição da devoção a Deus e da sacralidade da vida humana por um "neopaganismo verde", onde "florestas" e ovos de tartaruga valem mais que bebês no ventre - ou mesmo fora dele. 

A esse respeito, vale a pena recordar duas citações: a primeira está no clássico "Os Irmãos Karamazov" do escritor russo Fiodor Dostoievski, que diz "quanto mais 'amo a humanidade' em geral, menos amo os seres humanos em particular"; a segunda, não menos importante, é atribuída a G. K. Chesterton, onde se lê que "Cristo não amava a 'humanidade', mas amava os homens... nem Ele nem nenhum outro pode amar a 'humanidade', pois seria como amar uma gigantesca centopéia". Portanto, fica evidente que o uso de narrativas de grande apelo emocional e afetivo, mas que não são ancoradas na realidade nem expressam um padrão de justiça legítimo, não passam de 1) embuste para enganar os ingênuos e de 2) instrumentos de autoglorificação de pessoas ímpias e que não temem a Deus, mas querem fazer de conta que o fazem. 


Nesse ínterim, deve-se acrescentar que a comunidade cristã/evangélica do Brasil testemunhou, particularmente no mês anterior, o surgimento de uma composição chamada "Evangelho de Fariseus", feita por uma jovem cantora e instrumentista paraense durante sua participação em um programa destinado a encontrar novos talentos da "música gospel". Embora não seja minha intenção primordial desmerecer a canção (e muito menos fazer qualquer comentário indevido sobre a compositora), a repercussão causada pela música ultrapassou as redes sociais e alcançou até a classe política do país, de modo que certos trechos da letra se tornaram objeto de polêmica e de discursos mais acalorados, tanto caluniosos quanto verdadeiros. Na canção, é dito que os cristãos estão vivendo ensimesmados (com "campanhas e eventos para si mesmos"), que "o dízimo é prioridade em lugar dos corações", que "cada fariseu escolhe a sua própria versão do Evangelho" enquanto crianças desaparecem traficadas na região do Marajó (ilha muito pobre no norte do Brasil) e, por fim, que a "Amazônia está em chamas devido ao descaso da 'falsa noiva' de Cristo, a qual está com seu ego superaquecido". Por tudo isso, alguns disseram que a música era um "alerta profético" para a "igreja brasileira" (a propósito, a própria cantora se definiu como uma "profetisa em tempos de caos"); por outro lado, outros foram bastante críticos às sugestões dadas pela letra, destacando um "viés político" sutilmente pernicioso nas entrelinhas da música. 

Logo... quem estaria certo
Os defensores da música ou seus "opositores"? Será que isso tudo realmente importa? 

Em outras palavras, haveria alguma relação entre todas essas coisas e a "Teologia da Cruz"? 
O que a Quaresma e a Páscoa teriam a dizer no tocante aos "evangelhos de fariseus" e aos seus seguidores?


Todas essas perguntas podem ser respondidas a partir da tese central desse texto, a saber: a suprema necessidade dos chamados "novos fariseus", assim como dos fariseus do passado e de todo ser humano é a "antiga teologia da Cruz", conforme revelada nos episódios da Quaresma e da Páscoa, nos quais Jesus Cristo, o Deus-Homem, cumpre a missão que lhe fora dada pelo Pai e, após sofrer a morte de cruz em lugar dos pecadores, ressuscita dos mortos para atestar a Sua divindade e garantir a redenção de todos por quem Ele dera Sua vida

Ditas essas coisas, o primeiro aspecto a ser considerado ao longo dessas respostas é que, ao mesmo tempo que a letra da música citada aponta problemas graves e reais do contexto cristão/evangélico brasileiro (como a "teologia da prosperidade", o egoísmo e a indiferença de muitos crentes para com os que sofrem e a pouca relevância da igreja na esfera pública), há algumas ressalvas a serem feitas. De fato, a genuína fé em Deus exige um conhecimento puro e correto acerca de quem Ele é, de Suas obras na história e do que Ele demanda de Suas criaturas e, por isso mesmo, quaisquer incongruências e equívocos doutrinários relacionados a Deus e à Bíblia devem ser corrigidos com zelo e celeridade, pois essas são questões de vida ou morte... de vida ou morte eternas! Portanto, eu não estou de brincadeira!

Dessa forma, os principais problemas relativos à mensagem dessa canção são 1) a atribuição de uma culpa generalizada à igreja como a "responsável" pelo caos social e pela "crise ambiental" (sic), 2) a superestimação de certos "papéis sociais" que a igreja deveria exercer como a marca indelével de sua identidade e 3) a linguagem irreverente para se dirigir à igreja, em tom condenatório e temerário, o que denota arrogância e ignorância sobre a natureza dela. 



Assim, sobre o ponto 1), deve-se salientar que a missão da igreja NÃO É resolver as mazelas sociais, "salvar o planeta" e nem mesmo dar um fim ao tráfico sexual de crianças (por mais que a solidariedade com os pobres, o usufruto responsável dos recursos naturais e o combate à pedofilia sejam nobres e muito necessários), mas sim GLORIFICAR A DEUS por meio de um culto verdadeiro, da proclamação do Evangelho ao mundo, da comunhão entre seus membros, da obediência periódica e constante às ordenanças cristãs (Batismo e Ceia) e da disciplina eclesiástica, de sorte que outros benefícios que a igreja pode conceder à sociedade seriam frutos decorrentes de sua fidelidade à sua real vocação. Quanto ao ponto 2), a identidade da igreja está em Jesus Cristo e é definida pela sua união com Ele e, por isso, quaisquer substitutos de Cristo como o fundamento da igreja, sobre Quem ela está firmada, devem ser terminantemente eliminados e destruídos, não importando quão "relevantes" estes pareçam para a sociedade moderna e, principalmente, para que a Igreja não busque ser "amada pelo mundo", desprezando Aquele que a amou e Se entregou por ela. Finalmente, um dos maiores males da cristandade atual é o desconhecimento do que de fato é a Igreja de Cristo e, com isso, o subsequente menosprezo a ela - ora, se nenhum homem deixa de se indignar quando ouve a sua esposa ser aviltada e zombada, quais sentimentos/afetos se elevam no coração de Cristo quando a Sua noiva é maculada pelas palavras dos que dizem segui-Lo? Se devemos tomar cuidado com nossas palavras ao falarmos com nossos amigos, pais ou autoridades civis/judiciais (embora algumas destas nos despertem somente raiva em lugar de respeito!), quanto mais ao nos referirmos à "esposa do Cordeiro"! Bom seria que tais bocas se calassem

Os "novos fariseus", portanto, acham que precisam "salvar a Igreja" de ser "mal vista pelo mundo" - mas quem disse que ela deve ser "bem vista" por ele? -, instituindo a si mesmos, em última análise, como os "vanguardistas" desse "processo de redenção". Entretanto, a Bíblia diz, ao contrário do que todos gostariam que dissesse, que quem "salva a Igreja" (no caso, salvou, está salvando e salvará) É JESUS E NÃO VOCÊ (ou EU, ou quem quer que seja), de tal modo que a preocupação dos que são discípulos de Cristo deve ser tão-somente andar fielmente "Coram Deo" (diante de Deus), procurando viver à luz da fé que professa com os lábios, visto que é Deus quem cuida da Sua Igreja e, no tempo certo, a vindicará diante de seus detratores e inimigos. Ah, eu mal posso esperar por isso!


Em contrapartida, ousarei afirmar que os "novos fariseus" não estão presentes apenas entre os "religiosos ativistas" (por assim dizer) que normalmente estão engajados em "causas sócio-políticas", mas igualmente dentre os que são (ou se consideram) diametralmente opostos aos mais "militantes". Estes últimos, por sua vez, podem ser encontrados nas comunidades cristãs mais históricas e tradicionais, sendo ferrenhos defensores de sua herança e tradição teológica, ocupando as salas de aula (ou as cátedras) em instituições de ensino renomadas em diversas partes do mundo e, muitas vezes, sobem semanalmente aos púlpitos bem como dão diariamente as caras nas redes sociais, através das quais buscam maior alcance e influência sobre sua audiência (seja ao vivo e em cores, seja virtual). Vale ratificar, porém, que pretendo tratar dessa questão com seriedade e amabilidade, pois todos estamos cientes de que "sob o pretexto de dizer a verdade, doa em quem doer" podemos tão-somente destilar orgulho, ira e leviandade contra o próximo - i.e., a verdade deve ser dita (e será!) com toda a firmeza que lhe convém, mas sem ignorar o bom senso e a sobriedade. Que Deus, mais uma vez, me ajude! 

Simultaneamente à polêmica da canção "Evangelho de Fariseus" (abordada acima), outras "tretas" têm surgido pelos "rincões da internet" - o que seria dos "webcrentes" (sic) sem as tretas inúteis, não é mesmo? -, a exemplo de 1) a obrigatoriedade de casais cristãos saudáveis de terem MUITOS filhos, 2) a absoluta proibição de se representar, sob qualquer forma, a pessoa de Cristo em imagens, por ocasião da popularidade de uma série chamada "The Chosen" - e.g., "Os Escolhidos", focada na vida dos apóstolos de Jesus - e 3) a restrição da "ortodoxia cristã" apenas a determinados círculos teológicos mais "confessionais", o que automaticamente lançaria todos os que não compõem esses "grupos seletos" no "balaio dos hereges", "quintas-colunas", "papistas transfigurados" ou outra ofensa imbecil presente nos comentários do Instagram. 

Inicialmente, reitero que as Escrituras ensinam que "os filhos são herança do Senhor", sendo descritos "como flechas na mão do guerreiro", de modo que "aqueles que enchem deles a aljava são felizes" (vide Salmo 127). Logo, gerar filhos é uma grande bênção divina (e.g., Gênesis 1:28-29), de sorte que os cristãos devem ver os filhos como "riqueza" e não como "despesa" e, sobretudo, precisam defender a vida desde a concepção ao combater a "cultura da morte" associada à "pauta abortista", rejeitando todo resquício de idéias derivadas do feminismo e movimentos semelhantes. Além disso, é evidente que a Bíblia reprova todo tipo de idolatria e descreve esse pecado como um dos mais estúpidos e perversos, salientando que Deus deve ser compreendido como um Ser singular e incomparável e, como resultado, nós devemos adorá-Lo consoante à Sua dignidade e excelência. Nesse sentido, os preceitos nos quais a idolatria é proibida (Êxodo 20:3-6; Deuteronômio 6:13; 1 João 5:21) englobam não apenas a condenação do pecado exterior (a saber, expresso na veneração de imagens, amuletos, estátuas, totens etc.), mas também condenam a "idolatria do coração", a qual é mais difícil de detectar e facilmente assume uma "forma de piedade", embora esconda uma atitude hipócrita e dissimulada. Por fim, eu sou um cristão fortemente convicto das doutrinas que professo e nas quais creio (tanto que eu evito entrar em debates, pois possivelmente ganharia a disputa!) e, por isso mesmo, sei do elevado valor de se cultivar a confessionalidade e de preservar as boas tradições. Entretanto, uma teologia biblicamente coerente e saudável precisa ser acompanhada do fruto do Espírito Santo, de humildade e da "sabedoria do alto" (ver Tiago 3:13-18) nas vidas daqueles que a defendem por toda parte, pois está escrito que "como o corpo sem o espírito está morto, assim a fé sem obras é morta" (Tiago 2:26). 
 

Por tudo isso, se faz necessário dizer que, quanto à exigência de se formar famílias numerosas, os dois maiores equívocos são que a) nem sempre o desejo de se ter muitos filhos será um desejo santo - p. ex., os casais podem desejar isso apenas para exibir a "vida perfeita" na internet, ou para procurar firmar a própria identidade em algo que não seja Cristo etc. - e, de forma particular, b) NÃO EXISTE qualquer preceito referente a QUANTOS filhos um casal deve ter e nem que a falta de filhos seja necessariamente pecaminosa (muito embora diversos pecados podem motivar o desinteresse pelos filhos, especialmente num mundo dominado pelo materialismo e pelo feminismo). Assim, aos tantos que se têm constituído "especialistas" ou "influencers espirituais" em nosso tempo, o alerta bíblico é um só: não deve haver muitos "mestres" no meio cristão, pois o juízo reservado para eles será mais rigoroso (vide Tiago 3:1). No entanto, aos tantos que acham que podem suportar o juízo de Deus e, mesmo assim, desejam continuar a "produção de seus conteúdos", eu envio outro aviso: as idéias têm conseqüências, e as palavras vãs também

No tocante ao problema da representação icônica de Jesus (em desenhos, quadros, vitrais etc.), sabe-se que o coração/a mente humano(a), devido aos efeitos do pecado, é tendencioso(a) às fantasias e ao autoengano, de forma que o devido zelo com respeito ao Ser de Deus é mais que necessário. Contudo, mesmo os mais zelosos e eruditos dos pensadores e intelectuais da história da Igreja estão sujeitos a erros e, por isso, seu legado teológico (livros, declarações de fé, catecismos etc.) também pode conter (e provavelmente contém!) lacunas e inadequações doutrinárias, fato que deve nos conduzir sempre à ÚNICA fonte de autoridade de fé infalível e inerrante: as Sagradas Escrituras. Desse modo, uma das maiores urgências do meio cristão mais tradicional (sobretudo o reformado, com o qual me identifico) é o ABANDONO RADICAL e CATEGÓRICO do que chamarei aqui de ROMANISMO REFORMADO, segundo o qual são adotados os "6 SOLAS" em lugar dos 5, sendo o último deles o "Sola Confessionis" - ou seria "Westminster's Alone"? Ou seja, enquanto se diz que "somente a Bíblia é a fonte de revelação e autoridade para o cristão, sendo a única regra que pode constranger a sua consciência", na prática se vê uma equivalência entre a Bíblia e os símbolos de fé, de forma que tais símbolos são definidos como A INTERPRETAÇÃO FIEL das Escrituras, o que faz com que tais protestantes sejam, nesse aspecto, exatamente iguais aos romanistas que tanto condenam. Ah, vale relembrar que o romanismo é uma "religião apóstata" e eu sou, com alegria, um "protex", pois eu quero uma "fé saudável e protegida"

Finalmente, no que se refere ao "sectarismo da ortodoxia cristã", o que foi dito acima também se aplica, pois a multiplicação de "teólogos de caixinhas de stories e de reels" testifica a decadência do labor teológico em nossa época, sendo um grave sintoma da maldita separação entre "conhecimento e devoção", de tal maneira que o que eu mais desejo é TOTAL DISTÂNCIA desses "mestres soberbos e engraçadinhos" (que pensam que a vida com Deus consiste em "se exaltar enquanto se zomba do próximo" ) até o nível "algorítmico", para que eu não tenha o desprazer de ver "recomendações" de vídeos e postagens idiotas feitas por gente ainda mais idiota. Além disso, é a partir da consciência da real supremacia das Escrituras sobre toda tradição religiosa (incluindo as boas tradições!) que podemos adotar uma conduta humilde para com irmãos de fé que pensam e agem diferente de nós em questões adiáforas (i.e., não-essenciais) e, com isso, reconhecer que o "reino de Cristo" é formado por "homens de toda tribo, povo, língua e nação" - o que inclui aqueles que não são iguais a nós, mas são igualmente amados por Ele.


Portanto, a verdadeira solução para todas as denúncias feitas até esse instante é a "Velha Grande História" - a qual chamei de "Antiga Teologia da Cruz", lançando mão da expressão de Lutero -, a qual é recordada por diversas comunidades cristãs em todo o mundo ocidental de modo mais intencional nessa Semana Santa (e na próxima, no caso dos cristãos ortodoxos/orientais), a saber: a "História do Evangelho", do Deus "que amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito" (João 3:16), Daquele "que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos" (Marcos 10:45), de Quem "veio ao mundo buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas 19:10)que "se esvaziou e assumiu a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e, sendo achado em figura humana (vale salientar!), foi obediente até a morte..." (Filipenses 2:7-8) etc., para que "todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna", cujo fim não seria uma cruz romana nem um sepulcro aberto numa rocha, mas a mais bendita das manhãs - a manhã da ressurreição, o Domingo da Páscoa!

Mas... por que/como a recordação da vida e obra de Jesus Cristo nos ajudariam a combater os diversos "evangelhos de fariseus" (ou melhor, os "novos fariseus" que infestam o meio evangélico), sejam as variantes "militantes", sejam as "confessionais", ou ainda as "ortodoxo-sectárias"?  

Primeiramente, o Evangelho de Cristo (e.g., "do reino de Deus", "da salvação", "da glória do Deus bendito", "da paz" etc.) nivela todos os homens, sem exceção, ao mesmo patamar de miséria e condenação pois, se somente em Cristo há verdadeira redenção, nenhum ser humano tem qualquer segurança/descanso diante de Deus caso confie em si mesmo ou em outrem. Ou seja, embora não seja o Evangelho em si que fundamente a punição do homem pecador (esse é o papel da Lei divina, pela qual vem o "pleno conhecimento do pecado" - Romanos 3:20), o anúncio das "boas-novas" já pressupõe a realidade das "más-novas" e, por isso, o Evangelho é imprescindível tanto para os que não temem a Deus (ou não crêem Nele) quanto para os que já professam sua fé no Cristo proclamado nele, como também dissera Martinho Lutero: "nós precisamos ouvir o Evangelho todos os dias porque nos esquecemos dele todos os dias". Nesse sentido, outra citação vem bem a calhar, onde se diz: "antes da Reforma, o problema da Igreja NÃO ERA que ela não tinha a Bíblia, mas que ela não tinha mais O EVANGELHO", dita pelo pastor batista Jonas Madureira (cujo único pecado é ser palmeirense!). Isto é, apesar de o Evangelho (como texto) ser parte do Novo Testamento (que é parte da Bíblia), o período que antecedeu a Reforma não era desprovido de elementos e práticas relativas às Escrituras, mas estava esvaziado do Evangelho e, por isso, a cristandade estava adoecida, visto que a glória de Deus em Cristo fora ofuscada por invenções e tradições humanas. Talvez seja, pois, exatamente isso que está se repetindo agora mesmo, na nossa cara, dadas as "tretas" na internet, os radicalismos tolos e as especulações fúteis que apenas produzem contendas e que não são "conforme à piedade", mas "servem apenas para a perversão dos ouvintes" (ou dos seguidores). 


Por outro lado, a mensagem que a Semana Santa pode nos trazer, no tocante a compreender com maior profundidade os últimos dias de Jesus até Sua morte e Sua ressurreição, igualmente nos ajuda a relembrar que Deus sempre cumpriu Seus planos da história, de acordo com Seu santo conselho e desígnio, usando diferentes meios e instrumentos pelos quais esses planos pudessem ser executados e, após a conclusão de todos os Seus atos de revelação, Ele continuou a agir na história a fim de preservar o Seu conhecimento para que as gerações futuras O conhecessem e O servissem. Dessa forma, apesar de que Deus possa, em Sua providência, atuar (ou tenha atuado) em algumas épocas de modo mais glorioso e abençoador do que em outras, os resultados dessas intervenções divinas particulares também incluem o contexto histórico de cada época e, com isso, não existe nenhum legado teológico que seja isento de influências sociais e culturais, o que torna todas as boas tradições e heranças religiosas sujeitas a equívocos e, portanto, não-infalíveis. 

Assim, se Deus sustentou a Sua verdade e a Sua igreja (a verdadeiramente "católica", não a romanista) por aproximadamente 16-17 séculos sem a necessidade de um movimento confessional específico - enquanto se pudesse pensar que a "verdadeira Noiva de Cristo" estaria sob ameaça mortal na ausência desses "purificadores da religião" -, por que ainda muitos se comportam como se Deus tivesse se tornado dependente desses "gladiadores da pureza" para salvar ou santificar os Seus eleitos? Que "eleição incondicional" (ou "perseverança dos santos") é essa que, supostamente, "dependeria" de pré-requisitos humanos, específicos de uma tradição, restrita a um território e circunscrita num século, para ser(em) validada(s)? Para quem me conhece bem, devo ratificar que sou um convicto defensor das "Doutrinas da Graça" (i.e., a doutrina da salvação reformada) - ao ponto de fazer o meu próprio "Programa Vejam Só", caso queiram discutir comigo a respeito delas! -, contudo é triste ver que muitos irmãos (pois assim os considero), no ímpeto de reafirmar seus distintivos e sua identidade, parecem "cair da graça" (quem lê, entenda) sob o véu do orgulho espiritual e do "zelo confessional". De fato, eu até desejo estar errado em alguns aspectos que permeiam essas críticas (caso esteja agindo sem amor para com eles) mas, se esse não for o caso, que Deus seja o Supremo Juiz entre nós, pois "Ele é sempre verdadeiro, e todo homem mentiroso" (Romanos 3:4).


Finalmente, a meditação no significado da Semana Santa (que, claramente, não é uma ordenança das Escrituras, mas pode ser uma ocasião muito oportuna para se aprender/recordar que a fé cristã não consiste primordialmente numa "argumentação logicamente bem elaborada", mas numa "verdade historicamente situada e devidamente comprovada") nos ajuda a entender quem verdadeiramente é Jesus Cristo e qual a natureza de Sua obra. Num mundo onde a quantidade de "versões de Jesus" ultrapassa em muito a torcida do Corinthians (a maior do Brasil, já que não é "terceirizada" como outras por aí), nada é mais indispensável do que o conhecimento do Jesus bíblico - ou seja, o único verdadeiro. A propósito... quem é o Jesus revelado na Bíblia? O que Ele fez e qual a importância de se saber essas coisas?

De fato, falar exaustivamente sobre o Cristo verdadeiro, o das Sagradas Escrituras, é totalmente impossível e, por isso, eu vou destacar apenas um aspecto: o Jesus da Bíblia é o "Verbo que se fez carne" e não o "Verbo que se fez enunciado/silogismo/documento de fé", de tal maneira que, ainda que não possamos vê-Lo fisicamente hoje (visto que Ele está numa condição de exaltação e, assim, Sua glória nos destruiria se O contemplássemos como estamos e, por isso, vivemos pela fé), Ele assumiu nossa natureza de modo DEFINITIVO. Isto é, o Jesus das Escrituras, desde o momento em que o Espírito Santo O gerou no ventre de Maria, jamais deixará de ser, em certo sentido, "como um de nós" e, portanto, podemos entender que a redenção da Criação envolve, obrigatoriamente, a redenção da realidade material. Ora, a demonização da matéria e a superestimação do "espiritual" são coisas de GNÓSTICOS e NÃO DE CRENTES, cuja postura foi chamada pelo apóstolo Paulo de "filosofia vã" e pelo apóstolo João de "espírito do Anticristo". Nada mais irônico, pois, que observar "antipapistas" sendo possivelmente guiados pelo mesmo espírito que orienta o papado!

Para finalizar, é pertinente reiterar que é por meio da própria revelação escrita (a Bíblia) que compreendemos que o Deus verdadeiro, subsistente em três pessoas igualmente divinas (embora distintas entre si), decidiu se revelar de forma cabal através da ENCARNAÇÃO, tornando-se visível para todos os que viram Jesus de Nazaré, o Filho do Deus vivo, chamado de "a imagem/o ícone do Deus invisível" (Colossenses 1:16) - ou seja, Aquele que faz o Pai, que habita em luz inacessível (1 Timóteo 6:16), "ser visto" -, pois está escrito que "quem vê a Cristo, vê o Pai" (João 14:9). Logo, se realmente levássemos o "Sola Scriptura" a sério, jamais o substituiríamos pelo "Sola Confessionis" (como se ambos fossem a mesma coisa), mas colocaríamos as coisas nos seus devidos lugares e cumpriríamos, na prática, o que afirmamos na teoria: a Bíblia é a "norma normans" (a regra que regula, a norma que normatiza) e tudo o mais - confissões, catecismos, credos etc., por mais notáveis e bíblicos que sejam - é "norma normata" (a norma que é normatizada, a regra que é regulada). Esta é a hora de fazer valer, mais do que nunca, o slogan "ECCLESIA REFORMATA ET SEMPER REFORMANDA SECUNDUM VERBUM DEI" (e.g., "a igreja reformada, que sempre se reforma, segundo a Palavra de Deus"), pois são as ações que mostram o que de fato cremos e não meramente os nossos discursos e a nossa retórica. 


Após tudo o que foi escrito, a conclusão é: aproveitemos a Quaresma/Semana Santa para sermos especialmente relembrados do Filho de Deus, que "nasceu de mulher na plenitude dos tempos" (Gálatas 4:4), viveu a vida sem pecado que não seríamos capazes de viver, "carregou em Seu corpo os nossos pecados" na cruz (1 Pedro 2:24), foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia (o Domingo da Páscoa) “por nós e para nossa salvação”. Abandonemos, também, as contendas infrutíferas e vazias, as quais não passam de "vitrines" para uma soberba velada (que, muitas vezes, se disfarça de "rigor doutrinário"), lembrando-nos que "com Deus não se brinca" (como se Ele fosse igual a nós!) e, com base nessa consciência, tratemos as coisas santas com reverência e temor, como uma expressão viva de nossa devoção a Deus, sem corrompermos o conhecimento de Deus em prol de "causas políticas" ou "pautas sociais", mas servindo a Ele do jeito Dele, visto que esse é o único jeito possível.

Que a "Antiga Teologia da Cruz" prevaleça, e os "novos fariseus" se rendam diante dela - ou sejam por ela abatidos!
Que Cristo, e somente Ele, seja o objeto de nossa fé para a salvação, pois "Ele é uma rocha firme, e tudo o mais é areia movediça"!
Que nossos corações se enterneçam, mais uma vez, pelo Servo Sofredor, o Redentor Crucificado, a fim de sermos aperfeiçoados em amor e humildade, conformando-nos a Ele em Sua morte para podermos participar da Sua ressurreição!

Hoje ainda é sexta-feira; amanhã será sábado; mas calma... o Domingo está chegando!




Pela certeza de que a "Teologia da Cruz" triunfará no final,



Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Das modernas "feiras de vaidade" e de "invasões verticais"...

O ano está perto do fim, mas ainda há tempo para voltar a escrever. 

A propósito, visto que este blog quase não tem leitores assíduos, tudo o que é escrito nele não diz respeito, primordialmente, a terceiros que poderão acessá-lo, mas antes a quem escreve e, sobretudo, Àquele diante de quem todos estamos, ainda que muitos não se dêem conta disso. 

Portanto, os principais objetivos de cada frase ou palavra são a) registrar as reflexões e convicções de seu autor, de modo que estas sejam devidamente 'entesouradas' por ele (na medida em que tenham valor, obviamente) e b) conduzir a todos os que lêem, em tudo e acima de tudo, a 'entesourarem' Aquele para Quem tudo foi criado e em Quem todas as coisas subsistem.

Assim, sigamos em frente - antes que o ano termine!


Primeiramente, o título dado a este texto está baseado em duas grandes obras da literatura ocidental. A primeira é o "The Pilgrim's Progress" (port. = "O progresso do Peregrino" ou, simplesmente, "O Peregrino"), um clássico da literatura cristã reformada do século XVII escrito pelo puritano batista John Bunyan, no qual cada capítulo apresenta um momento ou desafio da jornada do personagem "Cristão" desde sua saída da "Cidade da Destruição" até sua chegada à "Cidade Celestial". A outra obra é essencialmente filosófica e se chama "Invasão Vertical dos Bárbaros" (do grande pensador brasileiro Mário Ferreira dos Santos), na qual ele descreve a decadência da sociedade moderna nos termos de uma invasão de "novos bárbaros" que, de modo análogo ao contexto da queda do outrora glorioso Império Romano, se insurgem como que "de baixo para cima" (o que pode evocar sua vileza e mediocridade) e implodem a civilização em que vivem, causando sua destruição. 

Desse modo, o texto destacará o relato da "feira da vaidade" presente em O Peregrino (local que simboliza as ofertas de prazeres e distrações que seduzem seus visitantes para que desistam de seguir sua jornada) juntamente com a idéia de "invasão vertical", relacionando as imagens e conceitos correspondentes e aplicando-os à realidade vigente e ao contexto dos períodos do Advento e do Natal, as duas estações litúrgicas rememoradas por muitos cristãos ao redor do mundo a partir do fim de novembro até o início do próximo ano. 

Que a missão seja cumprida até o fim deste post, com a destreza e a dose de sarcasmo que me são devidas!  


A Vaidade e suas "feiras modernas".

"Inanzitutto" (ou "primeiramente"), vale a pena relembrar os diversos conceitos do termo "vaidade" para compreendermos mais claramente o argumento que será desenvolvido aqui. Dito isso, a palavra "vaidade" é usualmente relacionada ao que é "vão", "vazio", "fugaz" e "transitório" (como no pensamento hebraico, sendo expressa no vocábulo "hebel/hevel", cujo significado é "fumaça", "vapor", "sopro" etc.), ou ainda a algo "sem subsistência ou substância" bem como "fútil" ou apenas de "valor aparente e exterior". Conseqüentemente, a "Feira da Vaidade" mostrada na obra 'O Peregrino' é uma espécie de mercado em modo 24/7 (i.e., que sempre está aberto a quem quiser visitar) no qual todo tipo de mercadoria, bem material, riqueza ou futilidade pode ser adquirido(a) e onde os deleites, a ostentação e a "dolce vita" parecem ser permanentes, de tal modo que todos os que aproveitassem o que a "feira" tem para oferecer gozariam desses privilégios, ao passo que os que resistissem às suas ofertas sofreriam escárnio, desprezo ou mesmo a morte - como no exemplo do personagem Fiel, o qual é martirizado por não ceder às tentações circundantes a fim de permanecer inabalável em razão de suas convicções. 

Além disso, embora as "feiras da vaidade" não sejam uma 'coisa nova' (como o próprio livro afirma), os produtos e bens contidos e vendidos nelas têm assumido "novas molduras" ou "formas atualizadas", conquanto ainda preservem sua essência característica. Isto é, assim como na Antiguidade existia a "Ágora" - a "praça dos eruditos e sábios" da Grécia - e, na Idade Média, os teólogos e mestres publicavam suas teses e questionamentos nas portas das catedrais, paróquias e murais de universidades a fim de promover debates e discussões intelectuais, atualmente temos uma nova "Ágora" - em versão digital, virtual, na palma de nossa mão -, em cujos murais (ou "feeds", ou "timelines") todos publicam suas idéias, teses, opiniões e convicções sobre o que bem entendem (ou melhor, sobre o que não entendem e acreditam que entendem, na maioria dos casos). Dessa forma, o "multiverso das redes sociais" se tornou a nova "Cidade da Vaidade", na qual todas as modalidades de prazer, benesses e produtos são oferecidos a todos (e por muitos) que, inevitavelmente, transitam por suas "vias algorítmicas" e, semelhantemente à Feira visitada por Cristão e Fiel, também humilha, calunia ou mesmo "cancela" a qualquer que não se ajusta às "diretrizes da comunidade" e "ousa ser firme" diante de seus opressores "pseudo-oprimidos". 


Dentre os aspectos mencionados acima, este texto buscará destacar um fenômeno bastante recente e que pode ser considerado como o principal "cartão de visitas" das "ágoras" de nosso tempo: a multiplicação desordenada e desenfreada dos autoproclamados "influenciadores", cujas publicações, vídeos, carrosséis de "perguntas respondidas" e demais conteúdos constituem, sem sombra de dúvida, as novas "feiras da vaidade", nas quais são mercadejados diferentes simulacros de prazer e realização pessoal bem como incontáveis frivolidades. Embora deva-se ressaltar, de fato, a existência de muitos veículos e espaços digitais que promovem, por exemplo, a) um conhecimento de excelência para uma subsequente formação intelectual/espiritual, b) arte de qualidade (o que é mais raro que um torcedor do Santos feliz com seu time!) ou mesmo c) informações de utilidade pública para o cotidiano e a vida comum, é inegável que o acesso facilitado aos ambientes das mídias sociais associado à ausência de referenciais éticos e morais adequados têm se refletido nesse abrangente "comércio virtual", em que o que mais importa é "parecer inteligente", esculachar os outros para "mostrar erudição", exibir a "família feliz, numerosa e 'anti-moderna'", "propagandear modéstia" para disfarçar a soberba interior e, finalmente, convencer os clientes ao dizer: 

"...Se você quer resgatar a família brasileira/criar machos e mulheres de verdade/formar sua personalidade acima da 'camada 4D' ou qualquer outra coisa que pareça "virtuosa" aos olhos dos outros, clique em 'saiba mais' ou no 'link da Bio' e faça o meu curso X ou Y..."! 

Desse modo, não custa nada relembrar aos que lêem este blog que o seu autor é, fundamentalmente, "um homem cuja alma pertence a algum momento entre os séculos XI e XVII" e, por isso, é "anti-moderno" - i.e., opositor de todo mínimo traço de mentalidade revolucionária e "progressista" e apreciador de tudo o que o mundo (ocidental) atual despreza/odeia, a exemplo da beleza, a verdadeira ciência, uma vida sem ostentações, a magnanimidade e a nobreza de caráter, a verdade e a coragem etc. Conseqüentemente, não se deve concluir que há incoerência na argumentação apresentada, tendo em vista que até as atitudes e motivações mais admiráveis possuem suas máculas e, por isso, confirma-se o antigo ensino do "Livro sagrado de capa preta": não há quem seja justo e não peque, uma vez que a 'serpente do pecado' espalhou sua peçonha por todas as dimensões da realidade criada e, assim, tudo o que existe foi mortalmente contaminado

Em suma, o que está em causa é: os "donos das bancas" das modernas "feiras de vaidade" são, em grande parte, vendedores que desejam "lucrar" com a nossa ignorância e falta de discernimento, sendo ávidos pela "vanglória" (ou "glória vã") advinda dos "likes", "visualizações" e "comentários positivos" e, como resultado, "percorrem todos os aplicativos vizinhos" para fazerem seus "prosélitos" tornando-os, quase sempre, "duas vezes mais filhos do inferno" do que eles próprios o são. Com toda a franqueza, se há algo do qual eu quero (e lutarei para manter) a mais absoluta distância - e de que eu não tenho a menor necessidade! - é de supostos "gurus salvadores da Civilização Ocidental" (ou da "Igreja Ocidental"), nem de "pseudointelectuais puristas" que julgam ser aptos para censurar os "estrangeirismos na linguagem" ou a posição das conjunções em orações subordinadas e, por fim, de quaisquer cursos que prometam a "minha vida virtuosa aqui e agora" ou que expliquem "todos os mistérios da alma humana em 15 aulas". Ora, se nem Dostoievski, Shakespeare, Santo Agostinho ou o Rei Salomão foram capazes disso, não será qualquer "blogueirinha" ou "intelectual de Instagram ou Youtube" que poderia (por si mesmo/a) sê-lo, visto que maior razão tem quem disse que "o mundo seria um lugar bem melhor se não houvesse tanta gente prometendo melhorá-lo". 


A invasão vertical dos "novos bárbaros"

Enquanto o protagonismo nas modernas "feiras de vaidade" pode ser consideravelmente associado aos que se declaram (ou são reconhecidos) "conservadores"/"tradicionalistas" - com os quais igualmente me identifico -, há outro tipo de protagonistas que deve ser destacado, uma vez que têm influenciado (ou desviado) o curso da sociedade moderna nos últimos séculos, não obstante serem o exato oposto daqueles: refiro-me aos "novos bárbaros" que vêm "invadindo a terra" em sentido ascendente, cuja ação organizada tem sido semelhante a um mecanismo de implosão, pelo qual grandes construções são derrubadas através de sua estrutura interna em poucos instantes. Tais invasores são, essencialmente, o que posso definir como "camaleônicos", visto que não lhes falta expertise e sagacidade em sua estratégia de "ocupação de espaços", a exemplo da mídia, das escolas e universidades, das cortes judiciais, das instituições religiosas e militares (de forma mais sorrateira e dissimulada) bem como de propriedades agrícolas, repartições públicas, residências e condomínios e até acampamentos no meio do deserto (nesse caso, o cinismo normalmente é explícito e a perfídia, escancarada). Em outras palavras, a depender da conveniência e dos meios de ação disponíveis, os "novos bárbaros" podem agir "dentro da lei", por "vias democráticas" e usando de camuflagem entre aqueles que desejam aniquilar e, simultaneamente, se insurgirem armados até os dentes, assassinando inocentes a sangue frio e com requintes de crueldade, expulsando famílias de seus lares e terras, destruindo plantações e ambientes de pesquisa e trazendo ruína em cada metro quadrado que pisam. 

Portanto, embora seja evidente, para quem tem poucos neurônios em funcionamento e conhece um pouco da realidade atual, a que grupo estou me referindo, creio que devo ser ainda mais claro: os "novos bárbaros" são popularmente conhecidos por ostentarem o "vermelho" em seus símbolos, apesar de que, no caso do Brasil, outras tonalidades - como o azul/amarelo - também têm estado presentes. Todavia, nas últimas décadas, não somente o "vermelho" tem sido visto nos locais onde os "novos bárbaros" têm se infiltrado, mas semelhantemente o "verde" (quem lê, entenda) e, concomitantemente, um verdadeiro "chiasso di colori" (como diriam os italianos!) expresso em bandeiras dos mais variados tipos (ou "gêneros", sic), cujos significados são impossíveis de decorar (se é que há algum sentido em tal insanidade!) e que servem exatamente para fazer de uma "histeria psicótica minoritária" a "normalidade" de toda a sociedade - i.e., o "novo normal" humano (e.g., anti-humano). 

Nesse ínterim, é importante ressaltar que estes "bárbaros" também estão nas "ágoras digitais" e, dessa maneira, a sua psicopatia totalitária tem caracterizado o comércio nas respectivas "feiras de vaidade", seja promovendo toda espécie de mercadoria estragada e prejudicial, seja buscando impedir que qualquer iniciativa benéfica tenha alcance e relevância. Dessa forma, multiplicam-se os defensores de terroristas (a saber, os verdadeiros "neonazistas" ou "islamonazistas") que incineram bebês em micro-ondas, estupram mulheres mortas e/ou cortadas em pedaços e enforcam homossexuais em praça pública, erguem-se altivos os que desejam censurar (e até matar, sempre que for necessário/der mais prazer) em nome da "normalidade democrática", amotinam-se os que concordam com "anistia" para criminosos e a sonegam a presos políticos inocentes e, finalmente, conspiram em conjunto tantos que alardeiam ser tolerantes aos que são "diferentes" - contanto que estes sejam iguais a eles. Ou seja, a mais recente "invasão vertical dos bárbaros" não é apenas uma das causas determinantes da deterioração do tecido social (e da própria natureza humana), mas igualmente um sintoma indelével dessa mesma decadência


Por tudo isso, há dois males em evidência aqui: de um lado, destacam-se as pitadas de soberba e oportunismo de muitos que têm méritos reais (por causa de seu trabalho e legado), mas que maculam a si mesmos em razão de seu esnobismo e vaidade - o que pode ser descrito como a "maldade de gente boa", segundo os versos da canção "Deus me proteja" - e, por outro, a malícia e a impiedade inescrupulosa de tantos outros, cujos méritos se restringem à capacidade de ludibriar e mentir bem como de tornar todo tipo de atrocidade que lhes seja útil um "bem necessário" e "louvável" - i.e., a "bondade da pessoa ruim", nas palavras da mesma canção citada. Entretanto, a existência de ambos os males é, acima de tudo, um testemunho inequívoco da realidade da natureza humana (a qual todos partilhamos) e, conseqüentemente, cada um de nós pode ser (e muitas vezes é) a "pessoa boa" que age com maldade ou a "pessoa má" que dissimula uma bondade fictícia. Dessa maneira, tanto os "inteligentinhos e virtuosos da internet" (que querem nos persuadir de que somente eles "sabem das coisas" e usam até o nome de Deus para maquiar a própria empáfia) quanto os "novos bárbaros" (os quais possuem o "toque de Midas" às avessas, uma vez que deterioram tudo o que tocam) - e, finalmente, nós mesmos - precisam(os) reconhecer qual a sua/nossa verdadeira condição e, à luz desse diagnóstico (um diagnóstico calamitoso e terminal, por assim dizer), buscar a solução apropriada, a qual não está (e nem poderia estar!) em nós e nem nos outros. 

A primeira "Grande Invasão Vertical" da história

Os estudiosos e amantes da história humana (seja da disciplina escolar/acadêmica, seja da coisa em si/na prática) certamente se deparam, em seus estudos, com inúmeros relatos de incursões e invasões de vários povos a muitos outros, sobretudo com objetivos militares (para o fortalecimento do exército e das fronteiras, a segurança do próprio povo etc.), econômicos (para aquisição de espólios de guerra, o direito a explorar riquezas do território conquistado etc.) e políticos (visando alianças de paz por meio de casamentos, ações de inteligência e espionagem etc.). Além disso, os que possuem o hábito de ler obras épicas ou de literatura fantástica também vêem, não raras vezes, relatos de batalhas heróicas e/ou de vitórias a priori inalcançáveis, as quais são, em muitos casos, cumprimentos de profecias pertencentes àquele mundo em que as estórias acontecem, assim como refletem, em última análise, o anseio humano pelo "triunfo do bem contra o mal", pelo "final feliz após uma jornada de angústia e aflição" ou "por um descanso permanente, num lugar onde a justiça e a paz se encontrem". 

Ou seja, os acontecimentos históricos, assim como os clássicos da literatura (desde a Antiguidade até dias mais recentes), ambos apontam para uma realidade que chamarei aqui de "a Primeira Grande Invasão Vertical", mediante a qual um único "Supremo Invasor" (inclusas as devidas adequações quanto ao uso desta expressão) adentrou, em movimento descendente, a dimensão material da vida - embora já existisse "desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Há cerca de 2 mil anos, numa pequena aldeia no atual estado israelense (outrora chamada "Judéia", termo relativo à tribo de Judá) chamada "Belém", ocorreria a "invasão vertical da Encarnação", na qual o "Eterno entraria no tempo" a "Divindade assumiria a natureza da humanidade", conforme centenas de profecias e figuras já haviam dito a Seu respeito, cujo cumprimento selou a velha esperança de que o mal que, no princípio, invadira o cosmos como resultado da sagacidade da Antiga Serpente e da desobediência humana, seria derrotado, assim como lemos em "O Senhor dos Anéis" pelos lábios de Samwise Gamgee, o Sam: "...até a escuridão deve passar, e um novo dia chegará; e, quando o Sol brilhar, ele brilhará mais claro...". Eis a "raison d'être" do Natal!


Nesse sentido, ao trazermos à tona esse significado, devemos nos recordar de que, algum tempo após o nascimento de Jesus Cristo, magos/sábios do Oriente (possivelmente da Mesopotâmia ou da Pérsia, estudiosos de uma "astronomia/astrologia antiga" e, talvez, ligados ao Zoroastrismo, embora também tivessem conhecimento de profecias referentes aos judeus e ao Messias) vão a Jerusalém, até o rei Herodes (o Grande), para saber "onde estava Aquele que era nascido Rei dos Judeus". Logo em seguida, Herodes fica alarmado/indignado com a informação (certamente por achar que seu poder estaria sob ameaça) e, de forma ardilosa e dissimulada, procura saber a respeito do assunto com os sacerdotes e mestres da Lei, os quais confirmaram que o Messias deveria nascer em Belém, conforme os profetas haviam anunciado (vide Mateus 2:1-6 e Miquéias 5:2). Assim, Herodes pede aos magos que se informem com precisão sobre o tempo de aparição da estrela que os acompanhara até ali e diz que queria "visitar o menino para adorá-Lo" - mas aqueles viajantes estrangeiros não fizeram nada disso! Em contrapartida, após a estrela lhes aparecer novamente, eles se alegraram com intenso júbilo, se dirigiram ao lugar onde Jesus estava com Maria e José (nesse caso, Jesus já devia ser um bebê maior, com idade entre 1-2 anos) e O reverenciaram, entregando a Ele seus bens mais valiosos (ouro, incenso e mirra), o que também aponta para profecias antigas a respeito do Rei que viria da linhagem de Davi (a saber, o Cristo - ver Salmo 72 e Mateus 2:7-12). Finalmente, os magos foram alertados em sonho para não voltarem a Herodes e, por isso, retornaram à sua terra secretamente - porém, o rei soube disso e sua ira o levou a realizar uma verdadeira "barbaridade", no sentido pleno da palavra. 

A esse respeito, semelhantemente aos dias em que nasceu Moisés (nos quais o Faraó havia determinado a morte de todos os meninos hebreus para impedir que o povo crescesse em número e, assim, pudesse se revoltar contra os egípcios e buscar a liberdade), Herodes mandou matar todos os bebês de dois anos para baixo em Belém e arredores, a fim de eliminar esse "suposto rei recém-nascido" e consolidar o seu poder de forma incontestável. Tal episódio foi uma carnificina de impiedade, visto que criaturas completamente indefesas foram massacradas por soldados romanos armados, sem chance de escape ou julgamento, a tal ponto que o evangelista Mateus aplica a seguinte profecia de Jeremias ao que é chamado na tradição cristã de "O Massacre dos Santos Inocentes":

"...Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e que recusa ser consolada, porque já não existem..."
- Mateus 2, vs. 18 (vide Jeremias 31.15)


Fica evidente, portanto, a partir dessas passagens das Escrituras, que sempre houve "bárbaros" ao longo da história, e que nem mesmo Jesus, o Deus encarnado, o Filho Unigênito do Pai, passou incólume à sanha assassina e iníqua deles, pois, muito embora Ele tenha escapado do massacre citado ao fugir para o Egito (o que chega a ser curiosamente irônico!) quando criança, viria o tempo em que Ele mesmo, de livre e espontânea vontade, entregaria a Si mesmo, daria a Sua vida, se deixaria ser escarnecido, ultrajado, aviltado, humilhado, agredido e morto da forma mais vergonhosa e fisicamente insuportável que poderia existir: a morte por crucificação. Curiosamente, assim como não se pode conceber a Jesus como Aquele que "morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" e que "ressuscitou para nossa justificação" sem a "invasão vertical da Encarnação", a razão última e principal do Natal é a "Semana Santa", sobretudo o período entre a quinta-feira e o domingo, no qual Jesus completaria a missão que lhe fora dada pelo Pai. Destarte, o "barbarismo" dos que conspiraram contra Jesus, O traíram e, finalmente, O mataram pelas mãos dos "bárbaros romanos" (por assim dizer), por mais horrendo que tenha sido, também não seria capaz de impedir que Deus cumprisse Seus planos; na verdade, Ele os cumpriu através da maldade de Seus próprios inimigos. Ó profundidade da riqueza! 

Finalmente, resta um último aspecto a ser destacado (ou uma inquirição a ser feita): você sabia que ainda haverá uma "Segunda Grande Invasão Vertical"? Se sua resposta foi negativa, continue aqui até o fim e, assim, você saberá.

A derradeira "Grande Invasão Vertical" da história

Como consta no início do texto, o argumento a ser desenvolvido aqui culminaria em conexões com os períodos do Advento e do Natal, os quais estão intimamente relacionados, embora sejam distintos entre si. Dessa forma, se a "Estação do Natal" serve para rememorar o cumprimento da promessa messiânica por meio da Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade, o Deus Filho, no homem Jesus de Nazaré (o que, segundo a tradição cristã, é conhecido como "Primeira Vinda" ou "Primeiro Advento"), a "Estação do Advento" (que antecede o Natal) tem como objetivo recordar aos que crêem em Jesus, o Verbo encarnado, que o mesmo Deus que cumpriu fielmente as promessas referentes ao Primeiro Advento também cumprirá as promessas referentes ao Segundo Advento, a saber, "a última grande invasão vertical" da história. Isto é, do mesmo modo que aqueles que possuíam a expectativa da chegada do "Descendente da Mulher", da linhagem de Abraão, Isaque, Jacó, Judá e Davi (em particular, os  israelitas/judeus do passado) tiveram de aguardar muitos anos, em meio a desolações, sofrimentos e aflições, que essa promessa se cumprisse, todos os que têm crido no Deus de Israel (e em Seu Messias) dentre todos os povos também têm aguardado com paciência, através de perseguições atrozes, calamidades e diversas oposições, pelas promessas futuras nos últimos dois mil anos até este exato instante. Todavia, virá o dia em que essa espera não mais será necessária, pois "ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará". 


Entretanto, "nel frattempo" (ou "enquanto isso"), dentre os variados males e angústias que têm sido prevalentes nesse mundo caído, o crescimento do escárnio e da zombaria para com Deus e em relação à Sua Palavra merece destaque, conforme as palavras do apóstolo Pedro, que escreveu:

"....Saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores que seguirão suas próprias paixões, os quais dirão: 'o que houve com a promessa da Sua vinda? Pois, desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da Criação'. [...]
Porém, não se esqueçam disso, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada... Contudo, o Dia do Senhor virá como ladrão..." [2 Pedro 3, vs. 3-4, 8-9a e 10a] 

Resumidamente, o trecho bíblico acima mostra que uma das marcas dos últimos dias (período que já está em curso, segundo as Escrituras) seria a proliferação de homens maus, soberbos e cínicos, escravos de suas próprias inclinações, os quais ergueriam seus punhos aos céus (talvez não haja figura mais oportuna - quem vê, entenda) e blasfemariam contra Deus e Sua Palavra, dando a entender que Ele não cumprirá o que disse ter prometido e, por isso, aqueles que crêem nas Suas promessas seriam tolos e iludidos. No entanto, o apóstolo quer reacender a esperança dos irmãos destinatários da carta ao afirmar que o "calendário divino" não é como o nosso, que Deus "nunca está atrasado, mas sempre chega no tempo certo" (assim como o mago Gandalf dissera acerca de si mesmo ao hobbit Bilbo) e, finalmente, que o "Dia do Senhor" (expressão bíblica que, nesse texto, se refere ao Segundo Advento) virá como ladrão - i.e., de forma inesperada, surpreendente, sem aviso prévio, de tal maneira que todos os que outrora zombavam e escarneciam serão tomados de pavor, uma vez que terão de encarar Aquele que desprezaram se manifestando visivelmente, vindo com "poder e grande glória". 

Quanto a esse dia singular, o mesmo Pedro diz que "os céus desaparecerão com grande estrondo e serão desfeitos pelo fogo", que "os elementos, ardendo, se dissolverão" e que "a terra e as obras que nela há serão desnudadas" (ver vs. 10 e 12), cujas imagens superam qualquer bom enredo de ficção científica e compõem uma coleção de fatos espantosos para todos os químicos e astrofísicos que se interessam pelos fenômenos espaciais. Assim, diante de acontecimentos tão grandiosamente aterradores, o que restará aos "virtuosos" que desfilam nas "feiras de vaidade virtuais"? Um novo curso sobre a "a vida intelectual num universo pós-planeta Terra"? Ou algum "instagrammer" ousará explicar os episódios mencionados numa story de 1 min ao responder as perguntas da caixinha - sem usar anglicismos, é claro?! Pondo à parte tais especulações irônicas, a única certeza razoável que permanece é: no Segundo Advento, a "Grande Invasão Vertical" que ainda está por vir (pois, dessa vez, o Deus que desceu a nós para se fazer homem voltará, rasgando os céus do Oriente ao Ocidente), todos os "mercadores das feiras de vaidade", quaisquer que sejam, serão desfeitos como um vapor (refletindo a própria vida inútil e frívola que viveram) e, igualmente, todos os bárbaros, outrora altivos em sua impiedade e pecado, serão humilhados e envergonhados, pois na presença do Cristo, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, todos inevitavelmente se renderão, tendo em vista que "o Senhor se ri dos ímpios, pois sabe que o dia deles está chegando" (ver Salmo 37:13).  


Em contrapartida, o Segundo Advento, a "Divina Invasão Vertical Final", o mesmo "Dia do Senhor" - que será de 'trevas e não de luz', de 'terror e não de descanso', de 'destruição e não de redenção' para todos os que não amam nem obedecem Àquele que haverá de vir neste Dia - será o momento mais glorioso para todos os que, por ora, sofrem com a "espera aparentemente longa" e o subseqüente escárnio do mundo, com a hostilidade e os ataques ardilosos de satanás e seus demônios e, mais intimamente, com as angústias decorrentes do pecado remanescente - o qual, embora não exerça mais domínio sobre os que pertencem a Deus, ainda é suficientemente poderoso para causar muitos males e danos a eles. A partir de então, com a vinda do "Desejado das Nações", Daquele a quem "todos os reinos do mundo um dia pertencerão" completa e concretamente, a peregrinação dos fiéis vivos estará concluída e o "estado de glória parcial" dos que aguardam a ressurreição do corpo para a "vida imortal" também chegará a seu fim, pois o reino "preparado desde a fundação do mundo" será entregue a seus herdeiros, a terra será "cheia do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar", os "homens não mais aprenderão a guerrear, pois suas armas serão convertidas em instrumentos de trabalho", os povos "afluirão ao monte do Senhor para aprender Suas leis e ouvir Sua Palavra" e, com a derrota final de satanás e o Juízo Final, virão novos céus e nova terra, nos quais haverá "alegria eterna, sem mais lágrimas" e onde "nem choro se ouvirá"

Porém, melhor do que todas essas realidades é a "visão beatífica", estar para sempre Coram Deo (e.g., diante da face de Deus), posto que "quando Ele se manifestar, seremos como Ele é", de tal sorte que todas as alegrias mencionadas são apenas holofotes que direcionam nossa atenção para a "Alegria Soberana e Verdadeira", aquela que jamais pode nos ser tirada (visto que não é fugaz e/ou transitória) e que será nosso "Sumo Bono" para sempre, visto que extirpará todo vestígio de "barbarismo" e impiedade.

E quanto a você? 

É facilmente seduzido pelas ofertas das "feiras de vaidade", tanto convencionais quanto virtuais? 
Por outro lado, você tem sido um "comerciante de coisas inúteis", mercadejando o que é sem valor mas usando de disfarces para enganar os outros e se aproveitar deles?

No mais, você enxerga em você o mesmo sentimento e atitude dos "novos bárbaros"? Você tem desejado perverter sorrateiramente o que acredita ser um "empecilho ao progresso humano" e, ao mesmo tempo, se julga no direito de destruir cruelmente tudo o que odeia? 

Em último lugar, você já se deu conta das duas "grandes invasões verticais" apresentadas aqui, a saber: a primeira, na qual Deus veio até nós em forma de homem para ser o nosso Redentor e, por fim, a segunda, na qual Ele virá como "juiz dos vivos e dos mortos", de tal modo que ninguém poderá escapar Dele? 

O que você fará diante disso? Invocará o Seu nome para que Ele "invada o seu interior" e te resgate ou, ao contrário, O desprezará até que não haja mais salvação?




Pela viva esperança de que Ele invadirá novamente a história,




Soli Deo Gloria!

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

"Upterranean Homesick Alien" - uma oração

 Deus onipotente, a Quem é devido o temor,
Nenhum de nós sabe orar como convém.

Todavia, ouso falar-Te, confiado em Teu amor,
O qual provaste na pessoa de Teu Filho,
Enviado ao mundo por nós e para nossa salvação,
Garantida para sempre a todos que nEle crêem.

Sei que tais palavras podem ser repetitivas,
Contudo "elas são uma segurança para mim",
Visto que, lá fora, a maldade se multiplica,
E, aqui dentro, ainda insiste em existir.
Há inocentes sequestrados e até bebês decapitados
Pela espada iníqua de homens abomináveis,
Apoiados por hordas de "democratas desprezíveis",
Cuja existência é, em si mesma, um "atentado"
A todos os que amam o bem e a justiça,
A qual está, há tempos, de todo pervertida,
Pelas mãos e mentes de poderosos depravados


Embora fale com tal dureza e severidade
De alguns dentre nós que "respiram maldade",
Todos devemos reconhecer nossa real condição,
Herdada por solidariedade com o "primeiro Adão".
Logo, não há quem seja justo e nunca peque,
Ainda que, na prática, não sejamos igualmente maus,
De modo que, se a Tua graça não estiver em ação,
Todos nos destruiremos mutuamente.
Levanta-Te, ó Senhor, Deus dos Exércitos,
O Único cujas guerras são, de fato, justas,
Vem e defende os que não podem se proteger
Dos assassinos das "hadiths" e das "sunas" -
Bem como de todos os que são como eles.
Não Te esqueças, também, Deus misericordioso,
De livrar-nos de nossa remanescente corrupção,
A fim de conformar-nos à imagem de Teu Filho,
Que virá a Sião para consumar a salvação.

Assim, permaneço ante Tua face, ó Deus fiel,
Pois Te deste a conhecer às Tuas criaturas,
Seja no "livro da Natureza", seja nas "Santas Escrituras",
Cujos oráculos foram dados aos filhos de Israel.
Tu não és como nenhum de nós, fracos e inconstantes,
Visto que manténs Tuas promessas para sempre 
E, tendo concedido dons que são irrevogáveis,
És digno da confiança daqueles que Te temem.
Assim, não permitas que nos ensoberbeçamos
Para com aqueles que outrora separaste,
Mas faz-nos, por Teu favor, humildes e gratos,
Sabendo que os ramos são, pela raiz, sustentados,
Até que se complete o "enxerto dos silvestres"
E venha, por fim, a redenção dos que foram cortados


Tu nos fizeste para Ti, ó Rei soberano,
Porém nós, de livre vontade, contra Ti nos rebelamos
E, assim, nos expulsaste de nossa morada original,
Fechando-nos o caminho para a "árvore da vida"
Após preferirmos o "conhecimento do bem e do mal"
Desde então, por meio de cidades, reinos e impérios, 
Buscamos construir, inutilmente, nossos próprios "paraísos",
Mostrando, então, a "saudade de um lugar perdido",
Marca indelével de nosso "senso do eterno".  
Portanto, todos vivemos como que "alienados",
De forma que, para longe de Tivagamos desorientados
À procura de uma "terra" para chamar de "nossa",
Na qual obteríamos o descanso desejado. 

Por isso, formaste no passado um povo para Ti
E lhe prometeste herança à vista das nações,
A qual lhe deste após muitas jornadas e batalhas,
Vencidas com o auxílio de Teu braço forte.
Vindo, porém, a desobediência e a obstinação,
Tu os exilaste entre os seus inimigos,
Os quais destruíram tudo que lhes era valioso
Para que as Tuas palavras se cumprissem
Tu, entretanto, os trouxeste de volta ao seu lugar
E também julgaste aos que lhes maltrataram,
De modo que a Tua justiça fosse reconhecida
E o Teu nome, devidamente temido.

É tempo de agires novamente, ó Guarda de Israel,
Pois muitos continuam a desprezar a Tua Lei,
Posto que cobiçam o que nunca lhes pertenceu
A fim de exterminarem Teus antigos escolhidos.  


Afirmo, pois, juntamente com Teus santos profetas,
A Tua fidelidade aos que, de antemão, conheceste,
Os quais, agora, estão em parte endurecidos,
Enquanto não se consumam Teus eternos desígnios.
Estende, assim, o Teu reino por entre os povos,
Visto que desejas que todos Te louvem,
A fim de que Teus filhos dispersos sejam reunidos
E, tendo sobre eles um só Pastor, o Teu Ungido,
Sejas misericordioso com as demais "ovelhas perdidas". 
Por isso, em Ti firmamos nossa confiança,
Ainda que, por um pouco, triunfem o terror e a matança,
Até que destruas o ímpio, dando fim à impunidade,
- Para que nada mais se ache de sua impiedade -
E salves o justo, conduzindo-o à eterna bem-aventurança.

Até quando, pois, nos veremos de todo assediados
Por inimigos cruéis, mais fortes e articulados,
Os quais nos 'perseguem com fúria pertinaz'
Cercando-nos e vigiando-nos por todos os lados?
Sei que 'a esperança adiada adoece o coração'
Bem como que 'não se espera aquilo que já se vê' -
Ajuda-nos, então, a seguir 'vivendo por fé',
Acolhendo os 'paradoxos' que nos deixam inquietos
Mas que, em Ti, encontram o seu sentido certo.
Guarda-nos de sermos 'abduzidos' pela dúvida
E protege-nos de nos afastarmos da verdade,
Para que nossos pés andem no caminho da paz
[Sob a luz do Sol que já nasceu e hoje brilha]
Até que cheguemos, seguros, à nossa Terra Prometida.


Desde o princípio, quando criaste tudo quanto existe,
Estabeleceste para cada um o seu devido lugar,
De tal modo que nos espalhaste por toda a terra
Para que, tateando, viéssemos a Te encontrar.
Logo, embora todos tenhamos nossa própria "pátria",
Com sua cultura, língua, história e tradição,
Nenhuma delas é a nossa 'residência final'
[Por mais que as amemos com todo o coração],
Tendo em vista que esta vida é temporal.
De fato, todos somos, em algum grau, peregrinos,
Seja nas mudanças de país, estado ou cidade,
Seja quando nos sentimos como "estranhos no ninho" -
A diferença, pois, está em como seguimos a jornada
E em que nossos olhos estão fixados,
De forma que, se estiverem para Ti direcionados,
Tu nos livrarás de toda armadilha do mal.  

Eu sou um 'forasteiro' com saudades de uma cidade que vem do alto.

Enquanto estivermos encarcerados em um mundo caído,
Haverá roubos, invasões, "hijras" e extermínios,
Tanto em nome de falsos deuses e seus "mensageiros"
Quanto de ideologias totalitárias e do "progresso político" -
Os quais, muitas vezes, estão trabalhando "bem unidos".
Contudo, o fim do "teatro das tesouras" se aproxima,
Em cujo Dia o Diretor da peça subirá ao palco
Para decretar, sobre todas as coisas, um ultimato,
Pelo qual concederá vida eterna aos Seus justificados
E, ao mesmo tempo, ira e indignação aos reprovados.
Eis o fim que é só o começo do verdadeiro espetáculo:
O Grande Rei virá à Sua cidade para assumir Seu trono,
E, assim, homens de todos os povos a Ele afluirão,
Até o "gran finale", no qual o Enganador será atormentado
Para que, finalmente, apareça a Nova Criação

Eu aguardo uma "cidade que tem fundamentos",
Cujo Arquiteto é a Fonte da perfeita Beleza;
Dela sou saudosista, embora jamais a tenha visto,
Não obstante saiba que em breve ela descerá.
Ali habitarão todos os que por Ti foram comprados,
Judeus e gentios, ricos e pobres, livres e escravos,
Entre os quais não mais haverá guerras nem inimizade
Visto que o amor permanecerá por toda a eternidade.
A fé, enfim, vencerá o mundo, a Graça superabundará,
O Mediador estará entre nós e a Escritura se cumprirá.
Glória, pois, somente Àquele que reinará!




Soli Deo Gloria!